Alguns dias após uma série de ataques terroristas assolarem a França e Líbano, líderes cristãos e muçulmanos se uniram em Paris no dia 17 de novembro para uma noite de debates sobre os esforços de criação da paz e o papel da religião na educação, promovendo o diálogo e levando ao fim da violência ao redor do mundo.
O evento foi organizado pela Catedral da Santíssima Trindade (Anglicana/Episcopal) em Paris, e liderado por um grupo de teólogos muçulmanos que são membros da União Mundial de Peritos do Islã para a Paz e Contra a Violência. Líderes católico-romanos e protestantes também compareceram ao encontro.
A noite foi uma iniciativa de Jean Maher, presidente da Associação Franco-Egípcia de Direitos Humanos, ao convite do Bispo Pierre Whalon da Convocação das Igrejas Episcopais na Europa.
Nas observações de abertura para a noite, Whalon citou a declaração da Igreja Episcopal sobre as relações inter-religiosas, Toward Our Mutual Flourishing (Em direção a nosso mútuo florescimento), comentado pela Convenção Geral de 2009. “Reconhecemos que ‘Jesus é o Senhor’, e que ele nos ordenou a amar nossos vizinhos. Para que isto seja possível, precisamos primeiramente conhecer nossos vizinhos, por meio do diálogo. Assim, o diálogo com os muçulmanos é requerido por nossa fé”, disse Whalon, que fez parte da comissão que produziu o relatório.
A União de Peritos, fundada há apenas quatro meses, já inclui 500 dignatários de todo o mundo – sunitas, xiitas, e sufistas – e “não tem conexões com qualquer organização ou governo”, disse Xeique Mustafa Rashed, Imã da Austrália e presidente da união. O grupo busca promover a paz entre as pessoas e religiões, e está clamando por reformas dentro de suas próprias tradições.
“Há atos de violência cometidos, como os de Paris de sexta-feira à noite, que podem ser atribuídos a falsos ensinamentos de ódio [que fomentam a violência em nome do Islã]”, disse Rashed. “Nós queremos atualizar este tipo de ensinamento, agora que fizemos uma completa avaliação disso. Nós estamos em um ponto de inflexão. Não podemos reescrever o Alcorão. Mas há uma enorme amplitude na interpretação de seus versos. Os que evocam a violência precisam ser contextualizados à luz da história; eles não são mais aplicáveis”.
“Há 660.000 hadith [provérbios], mas apenas 2.240 são verdadeiros”, adicionou ele. “Há medidas imediatas a serem tomadas, e outras que são a muito longo prazo – uma reforma dos ensinamentos muçulmanos. Isto nunca foi feito antes… nós lançamos uma reforma que se origina de dentro do Islã para treinar imãs que rejeitem a violência”.
Após a fala dos imãs, o Revmo. Michel Dubost, Bispo Católico-Romano de Evry e presidente do Conselho de Bispos Franceses para Relacionamentos Inter-religiosos, e o Pastor François Clavairoly, presidente da Federação Protestante da França, elogiaram esta nova, recente iniciativa, e chamaram a um diálogo renovado com os muçulmanos.
Em suas observações de encerramento, Whalon observou que os ensinamentos de todas as tradições religiosas são potencialmente suscetíveis a visões extremistas e à violência. “O cristianismo não tem superioridade moral historicamente. As guerras de religião do século dezessete deixaram morta um terço da população europeia, tudo em nome do Príncipe da Paz. O diálogo é o único caminho adiante”.
Por último, a convite de Whalon, Rashed concluiu a noite com uma oração em árabe.
Celebrações e vigílias foram feitas por todo o mundo em resposta ao ataque terrorista de 13 de novembro em Paris, que matou pelo menos 129 pessoas.
No entanto, a discussão de 17 de novembro na Catedral foi planejada bem antes dos ataques terroristas, e faz parte do projeto Islam et Vivre ensemble (Islã e convivência), uma série de encontros e eventos ligados ao Dia Internacional da Tolerância (16 de novembro). De 10 a 20 de novembro, os imãs têm feito suas vozes serem escutadas em Bruxelas e Paris. Eventos agendados incluíram a participação de diversas conferências de alto nível no Parlamento Europeu (Bruxelas), no Ministério de Relações Exteriores (França), na Assembleia e Senado Nacionais (França) e UNESCO.
Publicado em 19/11/2015 no site Episcopal News Service.