De acordo com o Christian Today, o pronunciamento era supostamente privativo do encontro de primazes, e não foi publicado no site oficial Primates 2016.
Apesar de seu escritório tenha recusado a comentar, não há desmentidos de que ele tenha feito o pronunciamento.
No entanto, a transcrição do discurso vazado pelo Vanguard foi amplamente compartilhada desde a abertura do encontro.Em seu pronunciamento, o Arcebispo de Cantuária Justin Welby contou a história de tensões e missão das igrejas em conjunto:
“Desde Augustinho, a história é uma mistura do bom e ruim, do heroísmo do esforço missionário de Augustinho em diante, por meio da evangelização das tribos selvagens da Escandinávia pelos monges no nordeste da Inglaterra, e mais adiante pelos séculos às grandes missões do século dezoito, que conduziu a muitas das igrejas cujos primazes estão aqui. Somos todos seus herdeiros e beneficiários da coragem, da perda, do sofrimento e martírio, de guerras de independência e conquista, da busca pela liberdade e de outros que usaram a igreja para a repressão. Todos moldaram a maneira pela qual pensamos e sentimos, e nossa história influencia a maneira com a qual lidamos com crises”.
Welby revelou que sua própria conversão cristã foi apresentada por missionários africanos:
“No entanto, por tudo isso, Deus foi fiel. Por exemplo, a África Oriental foi evangelizada, é verdade, primeiro por missionários, mas foi o reavivamento da África Oriental que definiu o padrão para a santidade, por um vigor no estilo de vida em relação a Cristo que tanto impressionou um professor de dezoito anos de idade na escola secundária de Kiburu. Esse mesmo jovem de 18 anos teve a semente do Evangelho plantada no solo e preparada, quando três bispos ugandenses, liderados por Festo Kivengere, foram até a Inglaterra em 1975. E algumas semanas depois eu dediquei minha vida a Cristo. Então, para mim, foi a fé natural do Quênia e Uganda, por meio do legado do reavivamento, que me trouxeram a salvação. Eu não me esqueço disto”.
Ele tocou no difícil relacionamento de algumas partes da Comunhão Anglicana com seus vizinhos muçulmanos:
“O Islã está se engajando em mais e mais atividades violentas em sua guerra civil. Seus braços violentos subvertem, atacam, matam e destroem sem misericórdia ou consciência, como os cristãos fizeram durante a reforma. Os principais líderes do Islã, estão em paz mas muito ameaçados, buscam por amigos, mas como nós responderemos?”
Christian Today descreveu o discurso como “em alguns momentos, quase desesperado”, enquanto Welby descreve as atuais divisões presentes na Comunhão:
“Nós entendemos nossas divisões como normais, mas elas são na realidade uma obscenidade, uma negação do chamado de Cristo e no equipamento da igreja. Se existimos para direcionar as pessoas a Cristo, com foi feito comigo, nosso direcionamento está gravemente avariado pela divisão. Toda Conferência de Lambeth no século XX falou das feridas no corpo de Cristo. No entanto, alguns dizem, isto não importa, Deus vê a verdade da unidade espiritual e a igreja ainda cresce globalmente. Bem, no momento sim, mas o mundo não vê a igreja espiritual mas o corpo ferido e dividido. Jesus disse a seus discípulos, «assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós».
Este envio está em perfeita unidade, e por isso até mesmo em Coríntios e no Concílio de Jerusalém, descobrimos que a verdade precisa ser encontrada unidos em vez de mostrar Cristo dividido ao mundo (…)”.
“Nós também podemos pintar uma figura sombria da moral e do estado espiritual do anglicanismo. Em todas as províncias há alguma forma de corrupção, nenhum de nós está sem o pecado. Há litígio e em alguns lugares o uso dos tribunais civis para assuntos da igreja. A moralidade sexual nos divide nas questões do mesmo sexo, onde nós somos vistos tanto como comprometedores como homofóbicos. A lista continua. O reavivamento da África Oriental nos ensina a necessidade da santidade. Precisamos ser renovados como uma igreja santa, definida por nossa paixão em adorar e por seu conteúdo, com todo cristão conhecendo as escrituras, orando, humilde e evangelista. Em uma frase, precisamos ser aqueles que, são, ao mundo externo, discípulos visíveis de Jesus Cristo”.
No amplo discurso, que também abordou a mudança climática, a secularização da cultura no ocidente, a pobreza global e perseguição, terminou com um chamado pela unidade.
“Então, com todas nossas graves dificuldades, enfrentamos um mundo na escuridão, amplidão e sofrimento, sabendo que servimos Jesus que nos enviou e que aqueles que nos enviaram e equiparam. Nossa responsabilidade nesta semana, portanto, é tornar a igreja mais preparada para a ação, enquanto corpo em todo o mundo”.
“Em primeiro lugar, ao lidar sinceramente e amavelmente uns com os outros. As últimas semanas viram muita especulação da imprensa, muitas declarações, inclusive ameaças. Mas agora estamos na mesma sala e podemos falar a verdade uns com os outros, mas a verdade que é falada com um profundo sentimento de amor de um pelo outro, não como uma coisa, um primaz, mas como pessoas, amadas por Deus sejam quais forem seus defeitos. Não encontraremos um caminho adiante, uma reconciliação, seja por evitar as questões ou pela agressão e jogos de poder. A verdadeira reconciliação é baseada na verdade, e na paz, assim como Jesus nos enviou em paz, o que significa harmonia de coração, até mesmo nos divergentes pontos de vista. Nunca houve um momento que a igreja tivesse uma única visão, mas frequentemente foi uma no coração”.
“Em segundo lugar, por um profundo foco em Jesus Cristo, em nossa adoração, em nossa meditação. Jean Vanier na quinta e sexta-feira não tem um papel em nossos esforços, mas falará de Jesus e nos liderará mais profundamente no amor por Ele”.
“Em terceiro lugar, por sermos claros e decisivos, até mesmo quando não pudermos concordar”.
“Em quarto lugar, por termos sido enviados, por olharmos para o exterior. Todo momento em que agirmos ou concluirmos uma ação, precisamos nos perguntar se isto nos levará a um mundo mais próximo de Jesus Cristo e de Sua salvação. Mesmo quando discordarmos, mesmo quando decidirmos conversar separadamente, não podemos da maneira de agir por em risco a salvação de uma pessoa fora desta sala”.
Publicado em 12/01/2016 por Rosalind Hughes no site Episcopal Café.