Um túmulo Vazio: a ternura
é mais forte que o ódio!
Não está aqui, mas ressuscitou
Lucas 24:6
Nas primeiras horas de um domingo na Palestina do primeiro século, uma comunidade estava abatida pelos acontecimentos de uma semana cheia de tristes memórias. Um profeta tinha terminado a sua missão como tantos outros profetas na história do Povo de Deus. Silenciado pelo poder de uma ordem religiosa e política que não se conformava com mudanças. Tudo parecia deprimente. Até que os raios de sol trouxeram consigo algo inesperado: aquele que estava morto reviveu!Os semblantes abatidos se transformaram, o luto deu lugar à alegria e a esperança reacendeu nos corações dos pobres, dos excluídos, dos silenciados. Literalmente uma transformação do luto à luta. O sopro do Espírito estava ativo, pronto para fazer um exército ressurgir, como na visão de Ezequiel.
Assim começava a Igreja do movimento de Jesus, agora o Cristo de Deus.
Não posso deixar de comparar esta descrição com a situação de nosso país. O povo brasileiro tem vivido no último ano um longo período de desesperança.
Projetos de uma nova sociedade, baseada na justiça e na solidariedade tem sido adiados por aqueles que – a exemplo dos poderes constituídos na Palestina do primeiro século – não aceitam a mudança da pirâmide social. O poder para eles, ao invés de estar a serviço do povo, deve servir aos seus interesses privados. Corrupção e escárnio capturam o direito dos pobres. A conta do esbanjamento dos ricos é paga com a dignidade dos excluídos. Some-se a isso a instabilidade política que se avoluma nas últimas semanas. Velhos fantasmas estão loucos pra voltar e já não escondem os rostos, pois a vergonha já não lhes tolhe o ímpeto.
Tempos que exigem de nós, membros do movimento de Jesus, resiliência, confiança e união. O nosso compromisso é com o Evangelho que nos diz para quem e com quem devemos levar adiante o sonho do reino de Deus. Não falo aqui de partido político, nem de pessoas individualmente. Falo de um projeto de sociedade que respeita e valoriza a verdade, a justiça e o bem estar de todas as pessoas. Falo do respeito à ordem constitucional, ao Estado de Direito e à Democracia.
O Ressurreto nos diz claramente: a morte não é a última palavra de Deus para a humanidade. A vida é possível e a forma de vivê-la na História se dá por uma cidadania profética. A desesperança, o medo e a velha ordem ficaram junto com os lençóis que o Ressurreto deixou dentro do túmulo. Agora será um tempo de espalhar a boa nova aos presos, aos cegos e aos famintos de justiça.
Renovemos a nossa fé fixando nossos olhos nos olhos do Cristo Ressuscitado, que se dirige à Maria de Magdala e diz ternamente: Maria, sou eu! Dizem que os olhos são as janelas da alma. Por isso, deixemos nos inundar por esse olhar verdadeiro, amoroso e justo. Nos unamos a Ele e seremos um somente! A ternura será uma arma mais eficaz que o ódio. E vamos sair, com alegria, anunciando o Reino de Paz e Justiça. Para o Brasil e para o nosso conturbado Planeta.
Feliz Páscoa a todo o povo de Deus!
++Francisco, Santa Maria
Primaz do Brasil
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil