Reconciliação

“A reconciliação é o teste final da missão cristã.”

Revmo. Michael Curry, Bispo Presidente da Igreja Episcopal (EUA)

Estas foram algumas das palavras provocativas que escutamos na recente conferência GEMN (Global Episcopal Mission Network) em Porto Rico. Mais provocativo foram as perguntas direcionadas ao grupo de missionários que compartilhavam suas histórias de missão em um pequeno grupo, “como um missionário faz a reconciliação?”

Mal sabíamos que dois dias após voltarmos desta conferência, testemunharíamos e faríamos parte de um desses momentos missionários de reconciliação.

Uma comunidade que experimentou um cisma 12 anos atrás no nordeste do Brasil, uma comunidade dividida, machucada, com prédios da igreja, ou melhor dizendo, casas espirituais, tomadas e então abandonadas, em ruínas, levou um povo a este momento no tempo.

Após longos 12 anos de esforços, batalhas jurídicas, espera, eles finalmente tiveram suas propriedades de volta apenas dois meses atrás. Encontrar as estruturas em ruínas foi opressivo em um primeiro momento, e então, como caminhamos adiante no meio de tudo isto? Algo que não é desconhecido da Igreja Episcopal, e até mesmo em nossa própria Diocese da Virgínia.

Mas o Bispo de Recife, Dom João Peixoto, não perdeu o ritmo ao celebrar o campo de novas possibilidades, e nunca se intimidou com os desafios adiante. Seu entusiasmo, liderança e visão abriram o caminho para seguir adiante, arregaçar as mangas, e começar a reconstruir.

Reconstruir não apenas as estruturas físicas danificadas, mas reconstruir o Corpo de Cristo.

E a excitação, beleza pura, era palpável na igreja na celebração de Corpus Christi, muito a propósito.

Ao final do XXXI Concílio Diocesano, e ao final da Eucaristia de encerramento na Paróquia do Bom Samaritano em Recife, o hino final “Um Momento Novo”, cantando uma nova canção, não poderia evitar esta comunidade levantasse de seus bancos, se espalhando pelos corredores, cantando e dançando pela igreja, sua casa, com as mãos unidas em uma celebração pela vida, comunidade, um verdadeiro momento de reconciliação que só poderíamos testemunhar. Um no Corpo de Cristo. Reconstruindo o corpo de Cristo juntos. Seguindo adiante juntos.

Tivemos a honra de, como missionárias, sermos convidadas para este momento diocesano, oferecendo como sinal dos laços de afeição a cruz de São Damião na Eucaristia de abertura. Esta cruz nos conta a história de São Francisco, que, enquanto orava e ponderava sobre os desafios adiante, recebeu uma mensagem do Senhor, “Francisco, você não vê que minha casa está caindo aos pedaços? Vá, então, e restaure-a”.

Nossa paróquia de St. Stephen´s da Igreja Episcopal em Richmond, Virgínia, ofereceu esse pequeno presente, esse ícone de São Damião, que foi graciosamente recebido pelo bispo Peixoto e pela comunidade enquanto a levávamos para frente. Ele imediatamente a colocou no altar onde uma cruz similar esteve muitos anos atrás e se perdeu durante o doloroso período de divisão.

Nosso amor é testado quando estamos em conflito com alguém. Quando nos sentimos machucados e bravos por algo que alguém nos fez. Nós fomos testemunhas e pontes de como a verdadeira reconciliação não é barata. Ela custa a Deus a morte de seu único Filho. Até que ponto vamos seguir?
Que esta cruz de São Damião permaneça e lembre a todos nós de que nos foi dado a todos o glorioso ministério da reconciliação, não importando onde estivermos. Em terras distantes ou em nosso próprio quintal.

Texto escrito por Heidi Schmidt e Monica Vega, missionárias da Igreja Episcopal (EUA) que atuam na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. Publicado em 01/06/2016 no blog da Global Partnerships of the Episcopal Church.