A Catedral Anglicana Christ Church fica na Cidade de Pedra como um símbolo da memória dos homens, mulheres e crianças que foram levadas da África Oriental e vendidos como escravos. Uma estrutura massiva de pedra do lado de fora das estreitas ruas e corredores do centro histórico, a catedral também serve como um lembrete do papel da Igreja Anglicana na abolição do tráfico de escravos, e sua contribuição na difusão do cristianismo na África.
Declarada pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade em 2000, a Cidade de Pedra recebe mais de 100.000 visitantes anualmente, com muitos deles visitando a Catedral, onde guias oferecem visitas da propriedade, construída em um antigo mercado de escravos.No outono de 2013, a Diocese Anglicana de Zanzibar – parte da Igreja Anglicana na Tanzânia – em parceria com o World Monuments Fund-Britain (Fundo Mundial de Monumentos – Grã-Bretanha) começou o projeto para preservar a catedral e criar um centro histórico para comemorar a abolição da escravatura e educar as pessoas sobre a escravidão em sua forma moderna.
“O projeto preservará um monumento muito significativo, e promoverá o acesso a um dos lugares mais importantes do patrimônio histórico na África Oriental”, disse o Bispo de Zanzibar Michael Hafidh, em uma mensagem de e-mail. “Contar a história deste capítulo sombrio da história da região é uma maneira aberta e factual de ajudar a unir divisões étnicas e sociais, além de promover a tolerância, reconciliação e uma sociedade inclusiva”.
O centro histórico contará a história do tráfico de escravos na África Oriental, tanto em inglês com em swahili, para promover o diálogo inter-religioso, educar os turistas, unir as divisões sociais e étnicas, e ensinar as crianças a tolerância e reconciliação para promover uma sociedade inclusiva.
“O processo de criação do centro histórico… e torná-lo acessível a crianças em idade escolar, que são os futuros líderes do país, promoverá o diálogo e compreensão inter-religiosa e intercomunitária”, escreveu Hafidh, cuja mãe era cristã e cujo pai era muçulmano.
A União Europeia e o Fundo do Embaixador dos EUA para a Preservação Cultural, dentre outras doações, pequenas ou grandes, deram o apoio financeiro para o projeto de restauração da Catedral. Exceto pelo pináculo, a restauração está completa.
Em 15 de junho, o centro histórico foi aberto. Apresentando uma exposição sobre o tráfico de escravos no leste africano, ela conta a história da escravidão e do comércio de escravos começando com a captura em lugares como Congo, Quênia, Tanganica, passando pelo transporte, compradores e vendedores, do trabalho nas plantações de especiarias e a jornada ao exterior, para a liberdade e o legado que a escravidão concedeu à Zanzibar, um arquipélago com 1,3 milhão de habitantes, sendo a maioria de muçulmanos.
“Zanzibar foi um importante ponto de transbordo para os escravos que vinham do continente e que eram vendidos no mercado de escravos de Zanzibar para donos de plantações árabes ou swahili para trabalharem nas plantações de especiarias na ilha de Zanzibar ou na ilha vizinha, Pemba”, disse Derek Peterson, um professor de história e de estudos africanos da Universidade de Michigan e membro da Igreja Episcopal de St. Andrew em Ann Arbor, Michigan, EUA. “Ou algumas vezes eles eram vendidos em grande número para negociadores que os levavam para além do Cabo da Boa Esperança em direção ao Brasil”.
O mercado de escravos mudou para a África Oriental após o parlamento britânico ter votado o fim do tráfico de escravos na África Ocidental e mais tarde ter posicionado esquadrões da marinha pela costa para interceptar navios negreiros que iam rumo ao Novo Mundo, aumentando o preço dos escravos, disse Peterson, que previamente ensinou na Universidade de Cambridge na Inglaterra. A demanda por trabalho escravo foi alta no Caribe e Brasil; sendo que o último país não aboliu a escravidão até o final do século XIX.
Trecho de artigo escrito por Lynette Wilson. Publicado em 24/06/2016 no site Anglican Communion News Service.