Rasgai os vossos corações e não as suas vestes!!
Joel 2,13
Iniciamos mais uma experiência litúrgica da Quaresma, rodeados de um contexto desafiador como Nação, como Igreja e como pessoas individualmente.
Como Nação percebemos que nossas instituições têm sido alvos de apropriação por parte de pessoas inescrupulosas que revelam sinais evidentes de descompromisso com a ética pública e com a real finalidade do Estado organizado que é o bem comum de toda a sociedade e a superação do fosso econômico e social que envergonha o Brasil. Este ano, segundo dados oficiais da ONU, o Brasil terá um acréscimo de quase 3 milhões de pessoas na faixa da pobreza.Como Igreja percebemos a profusão de conflitos como resultado de notório distanciamento das marcas de nossa tradição, culminando com o cisma causado por algumas lideranças na Diocese Anglicana do Recife. Tempos de dor e sofrimento de tantas pessoas que amam a Igreja e ficam perplexas diante da incapacidade de irmãos e irmãs respeitarem as diferenças e viverem a unidade na diversidade. Nestes conflitos o que mais é buscado é a firmação de quem tem mais poder, não escondendo sequer as vaidades pessoais.
Como pessoas, temos buscado viver o Evangelho e nos sentido quase impotentes porque parece que cada um e cada uma busca o seu próprio interesse e, dessa forma, vai perdendo o senso comunitário, eclesiológico e fraterno que o Evangelho e as Cartas Apostólicas tanto enfatizam como essenciais para a maturidade da fé e inserção na vida da sociedade como “sal e luz” para o mundo. Isto lembra a palavra do jovem apóstolo João que lembra: Se não amamos a quem vemos, como podemos amar a Deus?
Estamos necessitando profundamente rasgar os nossos corações, como nos conclama a palavra de Joel. A Quaresma não é apenas um tempo de mudar as cores da Igreja, adotar posturas externas de penitência ou simplesmente assumir sacrificialmente hábitos diferentes (alguns dos quais serão esquecidos posteriormente). A Quaresma é tempo de pedir a Deus e buscar sinceramente a mudança de nossos corações, de rasgá-los porque estão ficando endurecidos e já esqueceram (em alguns casos) o primeiro amor.
Que Deus nos inspire a tomar atitudes corajosas, a olhar para fora de nós mesmos, a sacrificar nossos desejos egoístas e enxergar o mundo que nos cerca (vivendo as dores de parto), as pessoas que nos cercam (aqueles pequeninos de Deus que ignoramos) e a mudar de verdade nas nossas relações na nossa comunidade local. A enxergar diferenças com o coração aberto ao diálogo, desarmados de toda pretensão de correção teológica – pois esta não salva ninguém. E que o Amor vença o ódio e nosso egoísmo, destruindo os muros visíveis e invisíveis que construímos para nós (e entre nós) mesmos!
Abençoada Quaresma,
Do Vosso Primaz
Francisco de Assis da Silva
Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Diocesano em Santa Maria