As Igrejas estão na linha de frente dos esforços de mediação por todo o mundo, disse o Arcebispo de Cantuária Justin Welby ao Conselho de Segurança das Nações Unidas no dia 29 de agosto, em parte por elas frequentemente serem “a única instituição atuando em uma situação frágil ou de pré-conflito”. Ele disse que as igrejas e outras comunidades de fé estão “intimamente presentes onde há conflitos; nós não podemos e não iremos nos afastar delas”. Ele citou o papel do Primaz Anglicano e Arcebispo do Sudão do Sul Justin Badi Arama nos esforços pela paz no país.
Welby repetidamente ressaltou que a mediação precisa ocorrer dentro do contexto da reconciliação.
“Onde a mediação se trata de resolver um conflito, reconciliação é o processo de transformar conflitos violentos em coexistência não violenta onde comunidades precisam chegar a um acordo com a história e aprender a discordar bem”, disse ele durante a exposição que fez com que ele fosse o primeiro Arcebispo de Cantuária a se dirigir ao Conselho de Segurança. “A mediação por si só, por mais habilidosa, é como usar uma mangueira de jardim para apagar o incêndio de uma floresta, quando o que você precisa de chuva por toda uma área para deixar a vida crescer e se sustentar”.
A reconciliação não acontece ao fim de um conflito, disse o Arcebispo. “Ela precisa surgir de uma estrutura que possibilite a manutenção da paz e evitar ciclos de conflitos que se repetem com força destrutiva sempre crescente”.
Welby foi o primeiro a se pronunciar para o “debate aberto” do conselho sobre “mediação e seu papel na prevenção de conflitos”. A Embaixadora do Reino Unido para as Nações Unidas, Karen Pierce, convidou Welby a participar. O debate é um de dois grandes “eventos discricionários” organizados pelo Reino Unido durante sua presidência rotativa da organização.
O Arcebispo tem experiência em mediação internacional e é membro do Conselho Consultivo de Alto Nível sobre Mediação do Secretário-Geral da ONU, António Guterres. O conselho foi instituído por Guterres em setembro de 2017 como parte de seu chamado por uma “força na diplomacia pela paz”.
De acordo com um documento de base da ONU, as questões a serem consideradas pelo conselho durante a sessão incluem como ele pode apoiar mais eficazmente as mediações como um meio para a resolução de disputas: como os estados-membros e a organização das Nações Unidas podem adaptar suas abordagens de mediação para terem em conta a natureza em mudança do conflito e o aumento no número e diversidade de atores de mediação no local; como é possível encontrar uma abordagem que construa capacidade de mediação em todos os níveis; e como as três entidades podem mais eficazmente apoiar e fortalecer uma participação significativa de mulheres na mediação e resolução de conflitos.
Welby disse ao Conselho de Segurança que ele representa uma igreja global “na qual o membro médio é uma mulher pobre vivendo em um cenário de conflito ou pós-conflito e que tem aspirações de todas as pessoas vulneráveis – acima de tudo, um anseio pela paz”.
Guterres quer fortalecer o trabalho da ONU na prevenção de conflitos e mediação e espera-se que o conselho consultivo sobre mediação permita que a ONU “trabalhe mais efetivamente com organizações regionais, grupos não governamentais e outros envolvidos em mediação pelo mundo”, informou a ONU.
Em janeiro de 2017, o secretário-geral pediu que o Conselho de Segurança fizesse mais uso das opções dispostas no Capítulo VI da Carta das Nações Unidas sobre “soluções pacíficas de disputas”, inclusive mediação.
“A guerra está se tornando cada vez mais complexa – e também a mediação para a paz”, disse Guterres quando abriu o debate. “Os conflitos pelo mundo se arrastam por anos e décadas, atrasando o desenvolvimento e tolhendo oportunidades. Acordos de paz abrangentes estão se tornando mais ilusórios e com vida curta. A vontade política diminui; a atenção internacional se afasta”.
O Secretário-geral disse que a ONU precisa investir mais na prevenção de conflitos e que isto inclui “investimentos na mediação, construção da paz e desenvolvimento sustentável”. Este investimento, disse ele, precisa incluir mais mulheres e entidades “para além das elites políticas e militares”.
“Isto significa trabalhar no nível subnacional e local para ajudar a construir a paz da base para cima. Autoridades locais, a sociedade civil, líderes tradicionais e religiosos, todos têm um papel crítico a tomar”, disse.
O Secretário-geral emitiu um relatório das atividades da ONU em apoio a mediação em junho de 2017.
A defensora da paz paquistanesa Mossarat Qadeem, que sucedeu o Arcebispo Justin no debate, ecoou o chamado pela inclusão de mulheres mediadoras no trabalho da ONU. “Nós, como mulheres, nos mantemos em grande parte fora destas portas”, disse ela, talvez por elas terem habilidades que outros percebem como “brandos”. Ela disse que mulheres mediadoras com frequência escolhem estrategicamente começar pelos “questões brandas” como uma maneira de fazer com que as partes se movam para as questões mais difíceis.
Ela rejeitou o argumento que as mulheres não podem ser mediadoras em certos lugares por causa de expectativas culturais sobre os papéis de gênero. Não se trata de cultura, disse ela, é sobre poder. Por quanto tempo, ela indagou, que o mundo se permite a rejeitar as habilidades “daquelas que entre nós estão trabalhando pela paz nas linhas de frente?”
O Conselho de Segurança considerou pela última vez um debate aberto a mediação e a resolução pacífica de conflitos em 21 de abril de 2009.
A Comunhão Anglicana tem status oficial de observadora das Nações Unidas. Jack Palmer-White é o representante da Comunhão na ONU. A Igreja Episcopal dos EUA é uma organização não governamental credenciada no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, ou membro da chamada organização da “sociedade civil” que está engajada no trabalho ativista e de defesa de direitos.
Texto de Mary Frances Schjonberg, editora sênior e repórter do Episcopal News Service. Publicado em 29/08/2018 pelo Episcopal News Service.