Natal de 2020
E o Verbo se fez carne e veio habitar entre nós (João 1.14)
Ao nos aproximarmos uma vez mais da Celebração do nascimento do Senhor Jesus Cristo, fazemo-lo, no contexto de um ano dominado por uma pandemia global. A contaminação por coronavírus espalhou o sofrimento de uma forma generalizada, muitos milhares de mortes e uma crise económica em todo o mundo. A situação do nosso mundo já era frágil, olhando a outras emergências de saúde pública, conflitos contínuos e mudanças climáticas que afetam a vida deste mundo criado por Deus e do seu povo. Esta pandemia acentuou as desigualdades no mundo, tendo sido profundamente afetados os mais pobres e os mais vulneráveis.
Em correspondência recente, fui questionado em mais do que uma ocasião, se o Natal deveria ser adiado este ano, por não o podemos celebrar em todos os seus aspectos litúrgicos e sociais, com os costumes e as tradições que o povo de Deus tanto valoriza. No entanto, quando olho à volta do mundo e através da sua história, é para mim claro que a celebração da Incarnação é sempre fundamentada no reconhecimento de que o nosso mundo é frágil e sofredor. Nosso Senhor nasceu neste nosso mundo decaído e é no seu Nascimento, Morte e Ressurreição que encontramos a esperança. Para povos que enfrentam doenças, guerras, deslocamentos e pobreza todos os dias, mesmo nesses sofrimentos é sempre possível de encontrar alegria no nascimento de Cristo que é assinalado e celebrado como uma forma constante de recordar a nossa Salvação.
Como Justino Mártir, um dos primeiros Mestres da nossa fé, escreveu:
Ele tornou- se um ser humano por nossa causa, tornando-se participante dos nossos sofrimentos. Assim da mesma forma Ele também nos pode curar. (Segunda Apologia, capítulo XIII)
Cristo veio a um mundo sofredor para trazer cura, reconciliação e esperança. Enquanto ouço histórias da resposta da Igreja ao sofrimento humano em diferentes partes do mundo, eu vejo essa esperança a tornar-se numa esperança real. Igrejas e cristãos individuais estão a chegar aos necessitados com amor: a maioria, frequentemente não numa posição de poder, mas de vulnerabilidade. Esse é exatamente o tipo de amor que nós comemoramos no Natal. Amor que suja as mãos. Amor que é aberto e generoso. Amor que, sem grande cerimónia, faz a diferença. Jesus Cristo, a luz do mundo, brilha mesmo nos tempos mais sombrios: por isso somos gratos e nos alegramos.
Para muitos, em diferentes partes do mundo, este será um Natal diferente. Oro, para que, em qualquer lugar em que os cristãos estejam possam encontrar a esperança, o conforto e alegria que vêm de Jesus Cristo.
Sob esta luz e esperança, transmito as minhas saudações aos fiéis de todo o mundo, orando para que, na força de Deus, todos possamos continuar a ser ministros de Cristo para o mundo que Ele veio para salvar.
Na paz e na esperança de Jesus, nosso Senhor Incarnado,
Justin Welby
Arcebispo de Cantuária