O rompimento das Barragens do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco, empresa controlada pela Vale do Rio Doce e pela anglo-australiana BHP, aconteceu no dia 5 de novembro provocando uma avalanche de lama misturada com resíduos tóxicos causando 24 mortes, mais de 600 pessoas deslocadas e principalmente a destruição ambiental de toda a região da cidade de Mariana e de todo o distrito de Bento Rodrigues. Os atingidos foram as comunidades ribeirinhas, camponesas, trabalhadores da mesma mineradora, famílias sem muito sustento. A tragédia adquiriu dimensões que vão além do estado de Minas Gerais, atingindo também diversas cidades do estado de Espírito Santo.
A indústria da mineração, no geral, é uma das atividades humanas que mais afeta a vida na Terra pelos seus impactos destrutivos nos ecossistemas, e é de enorme contribuição para o aquecimento global através das emissões de gases efeito estufa, quando não contempla estratégias de redução de riscos e mecanismos de desenvolvimento sustentável.
Igualmente, pelo seu enorme potencial de lucro e de dividendos, que somados à corrupção, é uma das atividades industriais que menos sofrem regulações de governos locais, regionais e federais os quais deveriam interferir para controlar a excessiva exploração do solo e impedi-la diante evidências de catástrofe iminente, sempre priorizando o direito de proteção humana e ambiental como também o direito das gerações futuras, uma vez que, os danos causados em Mariana e Bento Rodrigues perdurarão pelas próximas duas gerações.
Uma tragédia como não se trata de um mero acidente, mas sim é resultado de uma sucessão de erros não contemplados com a devida relevância os quais levam ao desastre que dificilmente é causado somente por um fator. Esse conjunto de equívocos passa necessariamente pelo descaso no controle governamental, como também, pelo crime de priorizar o lucro em detrimento da segurança humana e ambiental.
Entendemos que foi um crime o fato de não se tomar as devidas precauções como também em não planejar mecanismos emergenciais para prever o rompimento e, no caso extremo, de avisar à população com antecedência para minorar os efeitos da avalanche de lama. Não basta somente com indenizar as famílias. É necessário descentralizar o poder das empresas nas decisões sobre os bens naturais, uma vez que eles não são infinitos e não são renováveis sem a devida sustentabilidade. No entanto, as proprietárias da mineradora Samarco não assumem as responsabilidades o que torna mais enfático o comportamento criminoso em não fornecer um mecanismo claro e efetivo na reparação de danos pós-evento.
Tragédias como esta desperta sentimentos de compaixão e solidariedade mas também de indignação, impotência, raiva e dor. Qualquer um pode ser afetado no futuro. Por isso é necessário denunciar esse modelo predatório amparado na economia de mercado que favorece os lucros em detrimento da vida!
Assim, convoco a Igreja a ORAR:
- Para que sejam tomadas as devidas precauções e prontas ações tanto dos governos quanto das mineradoras responsáveis a fim de evitar que a terceira barragem de Germano venha se romper e aumentar assim os danos às populações.
- Para que as pessoas afetadas sejam ressarcidas e que lhe sejam oferecidas moradia, trabalho e infraestrutura dignas para reconstruir seus projetos.
- Para que a ambição humana pelo enriquecimento cesse e não seja colocado o interesse pelo lucro acima da vida e assim evitar outros desastres causados pelo descaso e corrupção.
- Para que as pessoas danificadas tenham direito a um atendimento humano e sejam supridas de alimentos, roupas e provisões básicas de qualidade.
- Para que o fornecimento de água seja garantido a todas populações nas cidades que têm sido afetadas pela avalanche de lama que está poluindo os rios e as nascentes.
- Para que os governos implementem estratégias direcionadas a evitar doenças, epidemias e contaminação tóxica derivada da avalanche de lama.
- Para que nos tornemos mais conscientes das necessidades do nosso próximo, que neste caso, são os nossos irmãos de Mariana e do Distrito de Bento Rodrigues em Minas Gerais, como também dos diversos povoados e cidades do Espírito Santo.
Dom Francisco de Assis da Silva
Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Publicado no dia 17/11/2015 pelo Serviço de Notícias da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (SNIEAB).