Igreja Anglicana e Ortodoxa Oriental alcançam um acordo histórico sobre a encarnação de Cristo e a procedência do Santo Espírito

Acordos históricos foram assinados entre a Igreja Anglicana e a Igreja Ortodoxa Oriental, ajudando a curar a divisão contínua mais antiga dentro da cristandade.

Uma declaração sobre cristologia, publicada no Norte de Gales nesta semana pela Comissão Internacional Anglicana – Ortodoxa Oriental (AOOIC), cura os séculos de divisão entre as Igrejas Anglicana com a família de Igrejas Calcedônias e Igrejas não Calcedônias sobre a encarnação de Cristo.

Adicionalmente, a Comissão fez progressos substanciais em questões que envolvem o Espírito Santo, o que manteve continuamente as Igrejas distantes com o passar dos séculos.

Lideranças clericais e teológicas de ambas tradições cristãs do mundo todo estiveram presentes na reunião na Biblioteca Gladstone em Hawarden, encorajando o diálogo teológico, enquanto ao mesmo tempo formando ligações profundas e apoio mútuo entre as fés.

Sua Eminência Metropolitana Bishoy da Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria no Egito e o Copresidente da Comissão disseram: “Com este acordo, nós conseguimos curar a causa da divisão entre as duas famílias de igrejas mundiais que começou na Calcedônia”

“Há outras coisas que emergiram durante a longa história desde Calcedônia no século quinto, então nós temos em nossa agenda muitas outras questões, inclusive a posição do Espírito Santo, sobre o qual também pudemos assinar um acordo preliminar neste tema”

“A publicação de nossa Declaração de Acordo sobre Cristologia é um grande resultado de nosso conjunto diálogo compartilhado. É uma peça teológica muito bela e encorajadora, e facilmente compreensível para as pessoas e prazerosa para os teólogos”.

A comissão passou uma semana no Norte de Gales conversando e visitando igrejas comunitárias por toda a Diocese de St. Asaph. Falando durante as Vésperas na Catedral de St. Asaph, o Copresidente da Comissão, o Bispo de St. Asaph, o Revmo. Gregory Cameron, que acolheu a visita, disse: “É um privilégio acolher vocês neste edifício que viu adoração todos os dias por pelo menos 800 anos, apesar desta ser uma tradição que pode ser facilmente correspondida e melhorada pelas Igrejas do Oriente”

“O diálogo ecumênico pode ser longo, mas sob este processo está o amor compartilhado entre os cristãos, e é este amor e afeição que nos une e faz voltar ao diálogo e compreensão mútuos”.

A Comissão Internacional Anglicana – Ortodoxa Oriental foi criada em 2001 para fortalecer o relacionamento de diferentes Igrejas e para discutir importantes questões teológicas, tais como a Cristologia, que dividiu a Igreja no Concílio de Calcedônia em 451.

O diálogo foi interrompido em 2003 após a consagração do Bispo Gene Robinson da Igreja Episcopal (nos Estados Unidos), mas foi retomado em 2013 com bons progressos desde então.

Além do diálogo, a Comissão orou e adorou, compartilhando preocupações urgentes de membros do Oriente Médio, especialmente com relação a situação crítica na Síria, Iraque, Líbano e outras regiões. O Metropolita Policarpo Augin Aydin da Arquidiocese Ortodoxa Síria na Holanda explicou o motivo deste acordo agora ser importante: “Por causa da imigração, agora nós nos encontramos lado a lado como vizinhos. No passado, costumávamos falar de Cristandade Oriental e Ocidental, mas isto não é mais o caso. Há cristãos ocidentais que vivem em países orientais e vice-versa. Portanto, precisamos dialogar com cada um para realmente aprendermos uns com os outros e a realmente compartilhar nossos tesouros uns com os outros”.

O Bispo Angaelos, Bispo Geral da Igreja Ortodoxa Copta no Reino Unido, disse: “O mundo no qual vivemos hoje é um mundo que precisa que nós, como cristãos, fiquemos unidos”.

“Em nossa mesa da Comissão, temos armênios lembrando o Genocídio Armênio, os sírios e iraquianos cujos países estão arrasados pela guerra e as pessoas estão deslocadas, os coptas que perderam 21 de seus homens para aquele horrível martírio na Líbia, o mesmo com etíopes na Líbia, e aqui na Europa nós também temos nossas próprias lutas. É o tempo certo para que fiquemos unidos como líderes cristãos e para reconhecermos aquilo que temos em comum, ao mesmo tempo respeitando as diferenças que temos”.

“Nos últimos 15 anos desde o 11 de setembro, há um grande apetite para que trabalhemos com outras religiões, mas infelizmente não tenho visto o mesmo apetite para que muitas pessoas trabalhem com outras Igrejas. Se tornou elegante ser capaz de dialogar com comunidades de diferentes credos, mas não celebramos uns com os outros ou aceitamos uns aos outros como somos; nós queremos que os outros se encaixem em uma determinada forma. Então eu penso que este diálogo reconhece que nós podemos ter diferentes ensinamentos em algumas coisas e outras questões talvez nunca sejam resolvidas, e esta é a realidade da coisa, mas não estamos tentando ser iguais, estamos tentando trabalhar naquilo que temos em comum”.

Para as duas famílias de Igrejas, este acordo é inovador, e pode ser um modelo para um diálogo ecumênico futuro. O Revmo. Arquimandrita Shahe Ananyan da Igreja Apostólica Ortodoxa Armênia disse: “Todo documento ecumênico oficial que é assinado tem suas dificuldades e também suas vantagens. Este documento, penso eu, é um modelo para outros diálogos Cristológicos entre as Igrejas Ortodoxos Ocidentais e Ortodoxas Orientais, que precisam recomeçar. Penso que este documento pode servir como um modelo para desenvolver diálogos subsequentes”.

A Comissão se encontrará novamente no Líbano, de 24 a 29 de outubro de 2016, quando se espera que o diálogo sobre o Espírito Santo continue.

Artigo publicado em 08/10/2015 no site Anglican Communion News Service.