Os líderes das 33 províncias anglicanas estão retornando para suas igrejas locais “atualizados e renovados” após o Encontro de Primazes desta semana na Catedral de Cantuária. Três primazes não puderam comparecer ao encontro por questões logísticas e de outros temas em suas províncias, enquanto outros três recusaram comparecer “citando o que eles acreditavam ser uma falta de condições dentro da Comunhão”, informou o comunicado do encontro. “Ficamos tristes por suas ausências e expressamos nossas esperanças e orações para que todos se unam a nós em futuras reuniões”.
Os primazes que estavam presentes descreveram o encontro como “uma bênção de Deus, pela qual nós experimentamos muitos sinais da presença de Deus dentre nós”. Em seu comunicado, eles disseram “nós experimentamos muitos sinais da presença de Deus dentre nós. O sentimento de propósito comum sustentado pelo amor de Deus em Cristo e expressado pelo sentimento mútuo de companheirismo foi profundo”.
Falando em uma conferência de imprensa ao final do Encontro dos Primazes, o Arcebispo Paul Kwong de Hong Kong, presidente do Conselho Consultivo Anglicano, descreveu o encontro como “o melhor” dos cinco Encontros de Primazes que ele participou. “o melhor, não por todos os presentes concordarem em tudo; mas por todos os presentes serem sinceros, estarem comprometidos, serem honestos uns com os outros, e pude sentir que todos que estavam lá, em particular eu mesmo, s sentiram espiritualmente estimulados e encorajados”.
Ele disse que “estamos comprometidos não apenas a caminharmos juntos, mas caminharmos juntos mais próximos, pois pensamos que há um propósito para caminharmos juntos: o propósito de termos a Comunhão que é ser relevante para o mundo no qual Deus nos chamou a servir”.
“É isto que fez com que o Encontro de Primazes fosse tão maravilhoso e estou satisfeito e privilegiado por ter participado”.
O Primaz do Quênia, Arcebispo Jackson Ole Sapit, participou pela primeira vez do Encontro dos Primazes. “Minha alegria é que nós fomos capazes de compartilhar profundamente, mas também a escutarmos uns aos outros. O mais marcante para mim foi a presença de cada um, pois nós somos uma Comunhão e somos uma Comunhão chamada a testemunhar em um mundo partido”.
O Arcebispo Jackson continuou: “Percebemos que nós temos tanto, em todos os continentes e em todas as províncias, que podemos escutar uns aos outros [e] compartilhar uns com os outros”.
Ele disse que o ponto alto da semana para ele foi a discussão sobre a missão: “A Igreja é chamada como uma testemunha para trazer a cura, a paz, a reconciliação, a ajudar as pessoas a serem responsáveis, a ajudarem as instituições a se tornarem mais fortes, a serem capazes de responder às questões”, disse. “Este foi o impulso de nossa discussão; e a amplitude da discussão me deu muita esperança: que eu pertenço a uma Comunhão que é tão diversa, mas também pode estar unida e focada ao lidar com as questões que afetam a humanidade”.
O Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, disse que “no melhor sentido possível, foi um Encontro dos Primazes de ‘negócios, como sempre’, que não tem sido comum por 20 anos. Os primazes parecem estar indo embora cheios de esperança”.
Respondendo a um jornalista que perguntou se houve uma mudança no foco do Encontro dos Primazes mais para questões externas do que a diferenças internas, o Arcebispo Justin respondeu: “Eu não diria ‘mudar’, eu diria ‘retornar’ ao Encontro de Primazes que penso ser que todos nós gostaríamos de estar”.
“Penso que a verdade é que você teve um pequeno paradoxo de juntar muitas pessoas, umas 35, 38, agora 39, províncias diferentes, 33 das quais estavam aqui, onde todos chegaram querendo falar sobre questões externas e nós acabamos falando sobre questões internas”.
O Arcebispo Paul Kwong complementou: “Todos os tópicos, itens, na agenda, foram propriamente, suficientemente abordados, pois a sábia presidência [do Arcebispo de Cantuária] fez com que todos os primazes presentes tivessem a chance de apresentar suas visões em quaisquer tópicos, ou quaisquer assuntos. Nada foi mudado”.
O Arcebispo Jackson Sapit disse que o Arcebispo de Cantuária convidou os primazes a voltarem ao “principal”, dizendo: “o principal da Igreja é ser testemunha e sair e ministrar lá fora e não focar muito em limitadas diferenças internas. Algumas vezes elas podem ser ampliadas ao ponto de esquecermos que estamos em um campo de missão e esquecemos a missão que fomos chamados a realizar”.
Foi anunciado anteriormente que haverá cinco encontros regionais de Primazes no caminho da próxima Conferência de Lambeth com todos os bispos anglicanos em 2020. O comunicado sugeriu que talvez aconteçam encontros adicionais dos primazes antes disso, deixando para que o Arcebispo de Cantuária assim considerar.
O comunicado diz que o Grupo de Trabalho do Arcebispo, criado depois do Encontro dos Primazes de 2016 com o objetivo de “restaurar relacionamentos, reconstruir a confiança mútua, curar o legado da ferida, e explorar as profundas diferenças que existem dentro da Comunhão Angli-cana” fez recomendações sobre “o desenvolvimento da liturgia comum, o princípio e a prática da peregrinação, e a época de orações de arrependimento e reconciliação”.
Na conferência de imprensa, o Arcebispo Justin disse que a época de arrependimento e reconciliação possivelmente acontecerá na preparação para a Conferência de Lambeth de 2020.
Em seu comunicado, os primazes confirmaram que a “Igreja Anglicana da América do Norte” (ACNA), que foi formada por membros da Igreja Episcopal dos EUA e da Igreja Anglicana do Canadá, “não é uma província da Comunhão Anglicana”. Eles dizem que “aqueles na ACNA devem ser tratados com amor como colegas cristãos”.
O comunicado tem palavras fortes sobre “intervenção transfronteiriça”, quando uma província opera em outra província sem o consentimento ou aprovação apropriada. “Nós reconhecemos que existiram oportunidades para iniciativas conjuntas e missões em parceria para o benefício do Evangelho onde isto é acordado entre as províncias”, informa o comunicado. “No entanto, o consentimento foi crucial para qualquer colaboração interprovincial, e foi essencial que a cortesia e o amor possam se estender entre as Províncias em todos os momentos”.
Diz-se que “violações do consentimento e cortesia” devem ser resolvidos, quando possível, no encontro regional dos primazes, “e reportado ao Secretário-Geral e Arcebispo de Cantuária como último recurso”. E diz que “atividades transfronteiriças persistentes e não consensuais quebram a confiança e enfraquecem nossa Comunhão”.
Os primazes reafirmaram a “tristeza da Comunhão por falhas anteriores em apoiar pessoas LGBTI e a condenação do preconceito e violência homofóbica”. E “saúda a notícia que a Igreja da Inglaterra embarcou em um grande estudo sobre a sexualidade humana… antecipando a consideração dos resultados deste trabalho em uma reunião futura”.
Os primazes discutiram uma gama de questões externas, incluindo discipulado e evangelização, reconciliação e criação da paz, mudança climática, segurança alimentar, refugiados, tráfico humano, e liberdade religiosa.
“O mundo nunca sentiu a necessidade de um Salvador mais intensamente”, disseram os primazes. “Nós compartilhamos histórias de perda e dor, de tragédias e desastres naturais, de ameça e violência. No entanto, neste mundo temos alegria, coragem e esperança por causa da luz do Salvador de todos, Jesus Cristo. Deus derramou seu amor por toda a Igreja por meio de seu Espírito Santo. A Igreja vive para proclamar seu Evangelho em palavras e ações. Desta forma, nós nos comprometemos novamente a liderar aqueles que servimos no alegre anúncio do Evangelho de Jesus Cristo”.
“Prometemos orar pelo empoderamento do Espírito Santo, para que possamos testemunhar efetivamente as boas novas. Para este fim, entre o dia da Ascensão e de Pentecostes de 2018, chamamos todos os que puderem a se unirem a nós a orar ‘Venha o Teu Reino’ – que o Espírito Santo habilite o anúncio do Evangelho para que muitos possam acreditar”.
O comunicado termina dizendo: “Nós partimos enriquecidos pela comunhão que compartilhamos e fortalecemos pelo testemunho fiel dos anglicanos em todo os lugares. Apreciamos profundamente as orações de muitos em todo o mundo ao longo do nosso tempo juntos”.
Publicado em 06/10/2017 no site Anglican Communion News Service.