Líderes anglicanos prestam homenagem após a morte de Winnie Madikizela-Mandela

Homenagens foram prestadas à Winnie Madikizela-Mandela, a ex-esposa do falecido líder anti-apartheid e presidente sul-africano Nelson Mandela, que faleceu no dia 02 de abril (segunda-feira) com 81 anos. O Arcebispo da Cidade do Cabo, Thabo Makgoba, Primaz da Igreja Anglicana do Sul da África, está atualmente em Londres em uma reunião do Grupo de Planejamento da Conferência de Lambeth 2020. Ele falou ao ACNS: “Envio minhas condolências à família. Sinto-me honrado por tê-la conhecido. Eu a admirava e respeitava. Que ela descanse em paz e suba na glória”.

E acrescentou: “Ela certamente desempenhou seu papel com muita coragem. Sim, ela cometeu alguns erros – mas vamos perdoá-la e honrá-la por aquilo que ela fez. Ela serviu seu país e seu povo. Quando ela falava em comícios, ela era muito articulada, muito articulada. Ela não ficava nem um pouco com medo”.

O Arcebispo Thabo a conheceu por muitos anos. Em seu livro “Madiba, fé e coragem: orando com Mandela” (Madiba. Faith and Courage: Praying with Mandela), ele lembra uma ocasião no início da campanha Solte Mandela, quando ele viajou para vê-la em Bradfort na província Estado Livre, onde ela foi banida pelo governo do apartheid. Ele estava levando comida e roupas, inclusive roupa de treino a ser entregue a Nelson Madela na prisão.

“Ela estava morando sozinha naquela minúscula casa de moradia social sem eletricidade. Ela poderia ter sido atacada em qualquer momento. Ela era muito corajosa”.

A última vez que se encontraram foi no dia do funeral de Nelson Mandela. O Arcebispo Thabo primeiro realizou uma pequena cerimônia com os parentes na casa da família. Winnie Mandela estava lá – assim como a segunda esposa do ex-presidente, Graça Machal. O Arcebispo Thabo lembra-se das duas mulheres sentadas pacificamente, uma ao lado da outra.

“Era como se estivessem aceitando que ambas tiveram um papel importante em sua vida, e as duas pertenciam a ele”.

O Arcebispo Thabo permaneceu em contato enquanto a Sra. Mandela estava no hispital, enviando regularmente mensagens por SMS. “Ela era grata. Ela costumava dizer, sempre que recebia um SMS meu, que ela sairia do hospital”.

O Arcebispo Emérito da Cidade do Cabo, Desmond Tutu, também prestou homenagem, dizendo que “Winnie Madikizela-Mandela foi por muitos anos um símbolo definidor da luta contra o apartheid. Ela recusou a se curvar pela prisão de seu marido, o assédio perpétuo de sua família pelas forças de segurança, detenções, expulsões e banimentos. Sua corajosa provocação foi profundamente inspiradora para mim, e para uma geração de ativistas”.

Outro ex-Primaz do Sul da África, o Arcebispo Emérito Njongonkulu Ndungane, a descreveu como “uma das mais corajosas ativistas anti-apartheid” da África do Sul.

“Uma mãe tem um lugar especial no coração de alguém, e isto não é menos verdade para a mulher que é carinhosamente conhecida como ‘a mãe desta nação’”, disse ele. “Na época da prisão de muitos líderes de movimentos anti-apartheid na Robben Island e no exílio, ela, sem medo, tomou o papel de ser a voz dos sem-voz”.

“Seu espírito briguento era tal que nem a crueldade do governo do apartheid em bani-la em prisão domiciliar em Brandfort pode quebrar sua resiliência e oposição ao governo do dia”.
Ele continuou: “Apesar de Mama Madikizela-Mandela ter cometido alguns erros de julgamento bem documentados em sua vida, ela permaneceu comprometida com os vulneráveis, e sempre foi a primeira em uma cena de tragédia para prover conforto e compaixão aos impactados”.

O Bispo de Joanesburgo, Dr. Steve Moreo, descreveu a morte de Winnie Mandela como “um golpe à África do Sul como nação”, e disse que ela “era uma figura influente por todos os anos de luta contra o apartheid, quando ela mostrou várias vezes ser uma lutadora inveterada pela causa da justiça”…

“Durante sua vida, ela manteve contato próximo com todas as partes da Igreja. Uma metodista praticante, ela usou suas fortes ligações ecumênicas para alcançar outras denominações não menos importantes do que a Igreja Anglicana do Sul da África em geral, e a Diocese de Joanesburgo em particular”.

“Houve muitas ocasiões nas quais sua perspicácia e informações de bastidores nos dias obscuros dos anos 1970 e 1980 ajudaram a Igreja Anglicana a ser parte do testemunho cristão para o fim do apartheid”.

Publicado em 03/04/2018 no site Anglican Communion News Service.