Rara Bíblia com 700 anos de idade retorna à Catedral de Cantuária cinco séculos após ser retirada

A Bíblia Lyghfield do século XIII, recentemente devolvida à coleção da Catedral de Cantuária. Crédito da foto: Catedral de Cantuária.

Uma rara Bíblia medieval foi devolvida à Catedral de Cantuária, a igreja mãe da Comunhão Anglicana mundial, cerca de 500 anos após ser retirada. A Bíblia Lyghfield – denominada pelo monge do século XVI a que uma vez pertenceu – estava entre numerosos itens que foram retirados da biblioteca monástica da Catedral na época da reforma. A comunidade monástica em Cantuária foi uma das que foram dissolvidas por ordem de Henrique VIII enquanto ele tentava afirmar sua autoridade sobre a igreja recém independente e saquear seus ativos.

O volume de 690 páginas foi comprado em julho de um vendedor particular em uma venda especializada de manuscritos em Londres. A compra foi financiada em parte por meio de uma doação de £96,000 (aproximadamente R$ 515.000,00) do Fundo Memorial do Patrimônio Nacional da Grã-Bretanha (Britain’s National Heritage Memorial Fund – NHMF) e financiamentos adicionais dos Amigos das Bibliotecas Nacionais (Friends of the National Libraries), Amigos da Catedral de Cantuária e de uma doação privada.

A compra da Bíblia Lyghfield e seu retorno a Catedral de Cantuária significa que o raro manuscrito permanecerá no Reino Unido.

“A Bíblia Lyghfield foi escrita no fim do século XIII em um pergaminho de alta qualidade que é quase como a qualidade de um tecido”, informou a Catedral de Cantuária. “A bela escrita latina e a extensiva e muito boa iluminura (decoração) provavelmente foi produzida em Paris, um dos centros medievais para este tipo de trabalho”.

“A Bíblia tem tamanho de bolso e foi projetada para uso pessoal, possivelmente enquanto se viaja. O volume fazia parte da coleção do monastério medieval da Catedral no século XVI, mas é bem provável que já estivesse em Cantuária bem antes dessa época”.

A biblioteca e a coleção de livros da catedral foi dispersa com a debandada da comunidade monástica, com muitos volumes destruídos ou desmembrados para a reutilização do material. Apenas 30 volumes da biblioteca original permanecem na catedral.

A Bíblia Lyghfield é a única Bíblia completa da coleção de livros medievais atualmente na Catedral e é parte da coleção inscrita no Registro da Memória do Mundo no Reino Unido da Unesco. Diz-se ser o melhor exemplo de um livro completamente iluminado daquela coleção.

A chefe dos Arquivos e Biblioteca da Catedral, Cressida Williams, comentou: “Somos muito gratos ao apoio dos financiadores. É de grande importância para nós ter aqui em nossas coleções uma cópia do texto central do cristianismo que pertenceu a um dos últimos monges da comunidade monástica medieval”.

“A Bíblia carrega o testemunho das agitações da reforma, uma época que definiu o que hoje é a Catedral, e terá um papel-chave em contar aos visitantes a nossa história”.

O ex-ministro de governo que agora atua como presidente do NHMF, Sir Peter Luff, disse: “Não apenas é um livro incrivelmente raro ligado diretamente a um dos períodos mais turbulentos da história britânica, a Bíblia Lyghfield também é requintadamente bela. Nós do Fundo Memorial do Patrimônio Nacional concordamos que era imperativo que ela deveria ser preservada para a nação e devolvida para sua casa em Cantuária, onde sua importante história pode ser contada para as gerações futuras de visitantes, peregrinos e estudantes”.

O plano da Catedral é exibir a Bíblia em uma nova exposição que está sendo desenvolvida na Catedral como parte do projeto da Jornada de Cantuária (The Canterbury Journey project).

Publicado em 03/08/2018 no site Anglican Communion News Service.