“No princípio criou Deus o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia”

A Catedral Nacional dos Estados Unidos (Washington National Cathedral – The Episcopal Church) considera as dimensões espirituais da exploração espacial e da missão unificadora da Apollo 8.

[Por Mary Frances Schjonberg, Episcopal News Service – Washington, D.C.] No auge do programa espacial dos Estados Unidos, a missão Apollo 8 que decolou 50 anos atrás neste mês, foi prioneira na exploração humana, não apenas no espaço.

“Earthrise” (Nascimento da Terra), foto tirada pelos tripulantes da Apollo 8. Foto: NASA

Os seres humanos deixaram a órbita da Terra pela primeira vez, e em direção à Lua, quase 400 mil de quilômetros de distância. Apenas alguns dias depois, na véspera de Natal de 1968, on, William A. Anders, Frank Borman e James A. Lovell Jr. colocam sua espaçonave na órbita lunar e se tornam as primeiras pessoas a verem o lado oposto da lua. Mais tarde, no mesmo dia, são os primeiros a verem a Terra nascer no horizonte lunar.

“Olhe aquela foto ali! Aqui está a Terra surgindo. Nossa, como é bonita!”, disse o astronauta William Anders em 24 de dezembro de 1968, enquanto ele, Frank Borman e James A. Lovell Jr. andavam com a cápsula espacial em sua quarta órbita da lua. Anders pegou a câmera Hasselblad e fotografou uma das imagens mais icônicas da era espacial. Assim como Andrews viu, a Terra “nasceu” ao lado da lua, não acima, como geralmente é descrito.

Os astronautas não mantiveram suas descobertas em segredo. Eles compartilharam do espaço com as pessoas na Terra, que estavam acompanhando sua missão, e transforaram a maneira que os humanos se viam seu espaço no universo.

Enquanto davam uma volta em torno da lua, os astronautas tiveram uma nova visão da Terra, disse o Bispo Presidente Michael Curry a uma grande multidão reunida na Catedral Nacional de Washington na noite de 11 de dezembro. “Eu imagino se, em algum nível, Deus sussurrou em seus ouvidos e disse, «Observem. Observem o mundo do qual vocês fazem parte. Olhem para ele. Olhem para sua simetria, vejam sua beleza. Olhem sua maravilha. Olhem para ela. Observem seu mundo»”.

Além de Curry, o programa “O Espírito da Apollo” na Catedral destacou Lovell, que também voou na Apollo 13, Gemini 7 e Genubu 12; Jim Bridenstine, administrador da NASA; Ellen R. Stofan, diretora do Museu Nacional Smithsonian do Ar e Espaço, e Revmo. Randy Hollerith, Deão da Catedral. Os cinco foram convidados a explorarem os significados espirituais da exploração e da unidade criada pela missão pela transmissão na véspera do Natal e a icônica foto “Earthrise” (nascer da Terra) tirada por um dos astronautas.

O programa na Catedral faz parte de uma série de eventos “Apollo 50”, culminando em uma celebração de cinco dias de 16 a 20 de julho de 2019 no Museu Nacional Smithsonian do Ar e Espaço e no National Mall para comemorar a Apollo 11 e o primeiro pouso na lua. O museu recebeu US$ 2 milhões da Boeing Corp. para ajudar a pagar pelo evento na Catedral e para todas as comemorações.

Hollerith sugeriu que a Apollo 8 foi “uma jornada sagrada não apenas pelo que se realizou, mas por aquilo que revelou a nós sobre nosso lugar na grande criação de Deus”.

Curry disse que “alguns disseram que aquele momento mudou a consciência humana para sempre”, complementando que a visão da Terra do espaço nos mostrou “que nós somos parte dele, não a soma total dele”.

Lovell concordou, descrevendo como ele percebeu que seu dedão podia encobrir toda a Terra enquanto ele a observava pela janela da cápsula espacial. “Nesta Catedral, meu mundo existe para além destas paredes, mas ver a Terra a 380.000 quilômetros, meu mundo repentinamente pareceu expandir ao infinito”, disse ele.

“Apenas pense: mais de três bilhões de pessoas, montanhas, oceanos, desertos, tudo que eu sempre conheci estava atrás de meu dedão”, disse ele. “Enquanto eu observava a Terra, percebi que minha casa era um pequeno planeta. É apenas um mero ponto em nossa galáxia da Via Láctea e perdida ao esquecimento do universo”.

Lovell, que recebeu aplausos sustentados e uma ovação de pé enquanto se aproximava do púlpito para começar suas observações, disse que ele começou a questionar sua própria existência, perguntando: “como me encaixo naquilo que vejo?”

Na véspera de Natal de 1968, a tripulação falou com os habitantes da Terra no que até então era a transmissão de TV mais assistida. Anders começou a descrever a Lua como “um horizonte bastante agourento, um lugar bastante escuro e pouco apetecível…”

“Nós agora estamos nos aproximando do nascer do sol lunar”, disse. “E, para todas as pessoas na Terra, a tripulação da Apollo 8 tem uma mensagem que gostaríamos de enviar a vocês”.

Anders começou a ler a história bíblica da criação. Após recitar os versículos 1 a 4 do primeiro capítulo de Gênesis, usando a versão de King James, Lovell leu os versículos 5 a 8, e Borman os versículos 9 e 10.

“E da tripulação da Apollo 8, nós terminamos, com boa noite, boa sorte, e um Feliz Natal, e que Deus abençoe a todos vocês, todos vocês na boa terra”, Borman concluiu a transmissão. Ela durou mais de três minutos e estima-se que foi escutada por 1 bilhão de pessoas por todo o mundo.

O comandante da missão, Borman, estava escalado como leitor do culto do dia de Natal em sua paróquia, Igreja Episcopal de St. Christopher em League City, Texas, até que a NASA mudou a data do lançamento. “Nós brincávamos sobre Frank ir tão longe – até a lua – para escapar do… culto”, disse o Rev. James Buckner à NBC News em 1999.

“Apollo 8 foi repleta de surpresas. Nós sabíamos que iríamos até alua. Mas escutar a história da Criação ser transmitida a nós na véspera de Natal, até mesmo os diretores com olhos de aço no controle da missão choraram”, disse Stofan. “Alguns de nossos mais bravos pilotos e marinheiros, montados em armas reaproveitadas de guerra, transmitiram uma mensagem de paz para toda a humanidade. Este foi o espírito da Apollo”.

Durante o programa da Catedrall, imagens de estrelas foram projetadas no teto abobadado da nave, e imagens celestiais cobriram o exterior do prédio. O Coral da Catedral executou “O Firmamento”, que combinou o canto com uma gravação história da transmissão.

A Catedral Nacional tem uma conexão cósmica

A Catedral homenageia há tempos as viagens espaciais. Sua chamada “Janela Espacial” contêm 7,18 gramas de basalto de rocha lunar do Mar da Tranquilidade, doada à Catedral pela tripulação da Apollo 11 (Neil Armstrong, Edwin “Buzz” Aldrin e Michael Collins). A janela foi dedicada no quinto aniversário do pouso lunar de Armstrong e Aldrin, em 21 de julho de 1974.

Hollerith, durante seu discurso e abertura, disse que a Catedral é “abençoada a ser guardiã” da rocha de 3,6 bilhões de anos.

Em janeiro de 1986, centenas de enlutados espontaneamente foram à Catedral e deixaram flores sob a janela como um memorial aos cientistas e técnicos para que foi projetado honrar após o ônibus espacial Challenger explodir no lançamento. Então, 17 anos depois, a Catedral abrigou a celebração memorial nacional para os sete tripulantes do ônibus espacial Columbia, que se desintegrou na reentrada da atmosfera terrestre em 1º de fevereiro de 2003.

Armstrong, o primeiro humano a andar na lua, foi homenageado após sua morte em 2012 em uma celebração pública na Catedral.

De maneira mais prosaica, desde 1986 uma gárgula Darth Vader, também conhecida como grotesco, reina no lado negro, norte, da Catedral de seu alto poleiro na torre noroeste.

A Apollo 8 voltou para casa com boas novas

Após a meia-noite da manhã de Natal, cerca de 20 horas e depois de 10 órbitas na lua, a tripulação fez história novamente quando ligou o motor para deixar a órbita lunar e voltar para casa. Novamente, esta ignição deu-se no lado distante da lua, fora do contato de rádio com o centro da missão. As pessoas escutavam ansiosamente pela confirmação que a queima alimentara a Apollo 8 para fora da órbita lunar em direção à Terra.

“Câmbio, por favor, informe que existe um Papai Noel”, Lovell transmitiu.

Trechos de artigo escrito por Mary Frances Schjonberg, publicado em 12/12/2018 no site Episcopal News Service.