Congregações combinadas na Califórnia são as primeiras a batizar-se com o nome da única diaconisa afro-americana

A Diaconisa Anna Ellison Butler Alexander nasceu em 1865 de pais escravos recém libertos e faleceu em 1947. Seu ministério foi na Geórgia rural, focando na educação de pobres crianças negras. Foto: Diocese da Geórgia, Igreja Episcopal (EUA)

A Igreja Episcopal dos Estados Unidos agora tem sua primeira congregação batizada em homenagem a uma mulher afro-americana. As congregações de St. George’s, Antioch, e St. Alban’s, Brentwood, ambas na Diocese da Califórnia, fundiram-se oficialmente no mês passado (24 de março). A congregação resultante agora é conhecida como St. Anna’s Episcopal Church (Igreja Episcopal de Santa Anna) homenagem a Santa Anna Alexander. O jogo sazonal conhecido como Lent Madness (Loucura de Quaresma) tem certo crédito pela escolha dos episcopais da Califórnia pela Diaconisa Anna Ellison Butler Alexander como sua patrona. O jogo foi criado pelo movimento Forward Movement inspirado no famoso March Madness, e apresenta santos “competindo” pelo Golden Halo (“Halo Dourado”). Santa Anna “ganhou” o halo na Loucura de Quaresma de 2018, seis meses antes da Convenção Geral reafirmar sua santidade em julho passado.

“Nós nos inspiramos tanto na história de Anna; ela dedicou sua vida à causa daqueles que antes eram escravizados, e apesar dos poucos recursos que tinha, conseguiu, com o tempo, construir uma escola e uma igreja para ajudar as pessoas a alcançar o sucesso através da alfabetização”, disse Jill Honodel, presbítera de longa data da congregação, em um comunicado à imprensa da Diocese da Califórnia.

Existe segregação educacional no bairro da congregação, de acordo com Honodel. Por exemplo, ela disse, a maioria dos homens afro-americanos têm dificuldade para passar nas aulas de matemática no ensino médio. “Somos inspirados por Santa Anna a fazer a nossa parte para que o maior número possível de pessoas tenha a chance de ter sucesso e a oportunidade de um bom futuro”, disse Honodel.

A fé de Alexander e sua defesa da alfabetização e da educação exemplificam “o que sinto ser o verdadeiro Cristianismo”, disse Michelle Price, a nova primeira guardiã da Igreja Episcopal de Santa Anna.

“Busquei na Lent Madness e a santificação de Santa Anna algo que poderia imitar em minha própria vida”, disse Price no comunicado. “Alguns santos fazem coisas tão gigantescas e dinâmicas, e aqui temos uma mulher simples e humilde em Pennick que silenciosamente mudou a vida das pessoas, um aluno de cada vez”.

Alexander, a primeira mulher negra diaconisa na Igreja Episcopal, ministrou nos condados de Glynn e McIntosh no Estado da Geórgia, EUA, concentrando-se na educação de negros pobres. Ela ajudou a estabelecer a Igreja Episcopal do Bom Pastor e sua escola paroquial em Pennick, a oeste da costa do Atlântico. Ela também fundou e ajudou a gerenciar a escola São Cipriano na Igreja Episcopal de São Cipriano em Carien, Geórgia.

Em 1907 durante a Convenção para Episcopais de Cor, o Bispo C. K. Nelson aceitou Alexander com diaconisa. Ele escreveu em seu diário no dia 3 de maio daquele ano, “Admitida como Diaconisa Anna E. B. Alexander, uma devota, piedosa, e respeitada mulher de cor, para servir como professora e ajudante na Missão do Bom Pastor em Pennick, Ga”.

Alexander seria a única afro-americana a servir como diaconisa Episcopal. A Igreja Episcopal reconheceu diaconisas de 1889 até 1970, quando a Convenção Geral eliminou a ordem e incluiu as mulheres em seus cânones que governam os diáconos.

Walter Holmes, primeiro guardião da Bom Pastor, disse à Episcopal News Service que como estudante de Sta. Anna, ele “vivenciou em primeira mão seu amor, sua dedicação às pessoas e o impacto que ela teve em tantas pessoas aqui no sul da Geórgia”.

“Então agora, é um belo testemunho ver que seu legado alcançou o outro lado do país – e até internacionalmente, sendo ela agora uma santa. Ela provavelmente ficaria sem graça por toda a atenção, embora sinceramente, é isto o que ela era”.

Sta. Anna ensinou o pai e dois tios de Zora Nobles. “Quando eu era muito jovem, meu pai falava sobre ela e como ela foi importante em orientar a ele e seus irmãos a fazerem o seu melhor – e também a terem a educação, e a encorajá-los a irem para a faculdade”, disse ela em uma entrevista no ano passado.

Os episcopais da Geórgia trabalharam por mais de 20 anos para que Alexander fosse reconhecida pela igreja. Em 1998, o Bispo Henry Louttit Jr. a nomeou Santa da Geórgia com comemoração no dia 24 de setembro. Em 2011 e 2014, a diocese aprovou resoluções clamando a Convenção Geral para incluir seu nome no calendário da Igreja. A Convenção Geral iniciou o processo para tanto em 2012. Em 2018, a Convenção Geral incluiu Alexander no calendário de santos da igreja com a Resolução A065, quando aprovou a revisão do “Lesser Feasts and Fasts” para uso experimental.

Honodel disse que os episcopais da Califórnia esperam honrar o nome de Sta, Anna através dos anos por meio de sua conexão com as pessoas de Pennick, Georgia, que a conheceram pessoalmente, e esperam fortalecer este laço entre a Igreja Episcopal do Bom Pastor na Geórgia e a nova igreja de missão na área da Baía de São Francisco.

Dentre as 6.712 congregações da Igreja Episcopal, apenas 400 tem seus nomes em homenagem a mulheres, sendo apenas cinco batizadas com de mulheres de cor, Santa Mônica. Ela nasceu no norte da África com pais Bérberes por volta do ano 331, e foi mão de Santo Agostinho de Hipona. O calendário da Igreja Episcopal homenageia Santa Mônica no dia 4 de maio e São Agostinho no dia 28 de agosto.

Cerca de 200 congregações da Igreja Episcopal foram batizadas por Maria, mãe de Jesus, ou Maria Madalena. Há cerca de 50 congregações com o nome da santa que foi mão de Maria, com escritas variadas como Ann, Anne ou Anna. Pelo menos duas congregações homenageiam mulheres que não são oficialmente consideradas santas. A Igreja Carolina de Brookhaven em Setauket, Nova York, foi nomeada para honrar a Rainha Wilhelmina Caroline of Brandenburg-Anspach, esposa do Rei George II do Reino Unido. O site da igreja observa que a escolha é uma evidência da “forte convicção legalista da congregação original”. A Igreja Episcopal Palmer Memorial em Houston, Texas, é um memorial a Edward Albert Palmer que heroicamente perdeu sua vida enquanto salvava sua irmã, Daphne Palmer Neville.

Resumo de texto escrito por Mary Frances Schjonberg, publicado em 02/04/2019 no site Episcopal News Service.