Dia Internacional da Mulher: um caminho que é preciso continuar desbravando

“Elevo a minha voz não para gritar mas para garantir que as todas as pessoas que não tem voz sejam escutadas. Não podemos ter JUSTIÇA enquanto a metade de nós se encontra silenciada” Malala Youzafzai, Prêmio Nobel da Paz

Irmãos e irmãs,

Vivemos dias especiais em nossa Província com a aproximação da festa de sagração e instalação de nossa bispa eleita Revda. Cônega Marinez Bassotto. A IEAB após de 33 anos da primeira ordenação feminina às Sagradas Ordens, estamos na expectativa de que mais duas bispas se façam presentes, para juntas com outros bispos da IEAB, conferirmos a ordem do episcopado à primeira bispa brasileira. Digo isso com alegria, porque sei que esta será mais uma barreira à ser superada.

Infelizmente em nossa sociedade patriarcal nem sempre podemos atestar este avanço. Vivemos um tempo de retrocessos patrocinados por quem detém o poder no Estado brasileiro. A violência contra as mulheres tem se ampliado. A exclusão de direitos sociais tem se tornado sistemática contra os segmentos mais vulneráveis da sociedade e, claro, entre todos, as mulheres se tornam suas maiores vítimas.

Projetos de interesse das mulheres no Congresso Nacional tem sido relegados a um segundo plano enquanto pautas conservadoras se colocam na linha de frente, inclusive a própria intenção de reverter – por interesses econômicos – os avanços do estatuto do Desarmamento. É bom lembrar que se essa flexibilização acontecer as estatísticas de feminicídio só tenderão a aumentar.

Durante os próximos dias, em Nova York, 44 representantes de diversas Províncias da Comunhão Anglicana estarão discutindo a promoção e o empoderamento de mulheres e meninas no contexto rural, onde o acesso à terra e aos recursos é completamente dominado pelos homens. A nota triste deste ano é que nossa Província não estará representada pela primeira vez em tantos anos: por conta do preconceito xenófobo e sexista do governo Trump, o visto para nossa representante, Revda. Elineide Ferreira, nomeada pelo Primaz, foi recusado sucessivamente duas vezes. Lamentável esta postura – que também atingiu desta vez outras representantes de países africanos e muçulmanos.

Temos muito a desbravar neste caminho da busca da igualdade de gênero. Certamente ainda existem muitas barreiras que o sistema capitalista, baseado na meritocracia, tem imposto às mulheres no mundo e em nosso país. É preciso continuar lutando e esta luta é de todas as pessoas de boa vontade. Homens e mulheres são chamados a se comprometer com um novo olhar, um novo jeito e construir um outro mundo possível. Esse novo olhar vem de uma hermenêutica libertadora, a partir dos óculos das pessoas que conhecem a opressão.

Assim, desafio nossas Dioceses, Paróquias e Missões a apoiarem ou darem visibilidade às ações em favor de direitos de nossas mulheres, quer sejam nos espaços litúrgicos, quer sejam em outros espaços da sociedade brasileira. Como pessoas episcopais, juntemos esforços para que os núcleos da União das Mulheres Episcopais Anglicanas do Brasil (UMEAB) sejam faróis de esperança e presenças do Reino de Deus nos seus bairros, em suas regiões e nas suas cidades, em todos os dias do ano. Que valha a máxima: NENHUM DIREITO A MENOS!

Somos pessoas chamadas a renovar o nosso entendimento e o nosso compromisso com o Evangelho que se levanta contra toda forma de discriminação.

++Francisco

Santa Maria, Primaz do Brasil

Publicado em 06/03/2018 no Serviço de Notícias da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.